segunda-feira, 16 de novembro de 2020


Emily Dickinson (1830-1886)


Não temos de ser Quarto — para existir Assombração —

Não temos de ser Casa —

O Cérebro tem Corredores — excedem

O Espaço Material —

 

Mais seguro é a meio da Noite Encontro

Com Fantasma exterior

Que Confronto interior —

Com aquele Hospedeiro Gélido.

 

Mais seguro é galopar por Conventos,

Pedras tumulares em nosso encalço —

Que encontrar-se Desarmado perante si —

Em sítio isolado —

 

O nosso Eu oculto em nós —

Assustar-nos mais deveria —

Assassino escondido em nosso aposento

É Horror bem menor.

 

O Corpo — de Revólver empenhado —

Dispara sobre a Porta —

Descurando espectro de assombro —

Ou Pior 


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One need not be a Chamber—to be Haunted—
One need not be a House—
The Brain has Corridors—surpassing
Material Place—
Far safer, of a Midnight Meeting
External Ghost
Than its interior Confronting—
That Cooler Host.
Far safer, through an Abbey gallop,
The Stones a’chase—
Than Unarmed, one’s a’self encounter—
In lonesome Place—
Ourself behind ourself, concealed—
Should startle most—
Assassin hid in our Apartment
Be Horror’s least.
The Body—borrows a Revolver—
He bolts the Door—
O’erlooking a superior spectre—
Or More—





quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Adrienne Rich (1929-2012) 


VII

Que tipo de monstro transformaria a vida em palavras?

Que tipo de expiação seria essa?

E, no entanto, escrever estas palavras permite-me também viver.

Será isto próximo das mensagens uivadas pelos carcajus,

cantatas moduladas do mundo selvagem?

Ou, quando afastada de ti, procurando inventar-te com palavras,

será que te uso, como se fosses rio ou guerra?

Como usei rios, como usei guerras

para não escrever sobre a pior de todas as coisas:

não os crimes dos outros, nem mesmo a nossa própria morte,

mas o fracasso de querer tão apaixonadamente a nossa liberdade

que olmos devastados, rios doentes, massacres pareceriam

meros emblemas da nossa própria profanação.


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What kind of beast would turn its life into words?

What atonement is this all about?

—and yet, writing words like these, I'm also living.

Is all this close to the wolverines’ howled signals,

that modulated cantata of the wild?

or, when away from you I try to create you in words,

am I simply using you, like a river or a war?

And how have I used rivers, how have I used wars

to escape writing of the worst thing of all—

not the crimes of others, not even our own death,

but the failure to want our own freedom passionately enough

so that blighted elms, sick rivers, massacres would seem

mere emblems of that desecration of ourselves?